domingo, 26 de outubro de 2008

Stanislaw Lem


Como quer você se comunicar com o oceano, se não é capaz de compreender a si mesmo."
[Solaris, Stanislaw Lem]


Hoje estava lendo um artigo sobre Stanislaw Lem, um dos autores de ficção científica que mais gosto, selecionei um trecho de um entrevista dada por ele em 2000. Sem mais delongas, segue:


“ – Vale a pena sonhar mas sob a condição que nossos desejos nunca virem realidade, pois, de perto até os mais belos sonhos tornam-se monstruosos.

– Sobretudo os mais belos. Por exemplo, o sonho de que não fiquemos doentes. Quantos homens maravilhosos sacrificaram a vida para que tal sonho se realizasse? E quanto conseguimos a caminho de sua realização? A maioria das doenças que durante séculos devastava a humanidade, hoje em dia não existem mais. Isso é maravilhoso. Mas continuaremos achando isso tão maravilhoso quando, graças à medicina, seremos 15 bilhões na terra? Duvido que algum dia possamos mandar a sobra para Marte ou para uma galáxia vizinha. E será que poderemos nos agüentar quando seremos 30 bilhões? Mesmo se conseguirmos nos alimentar? Será que não nos mataremos mutuamente amputamos 90 por cento da agressividade que temos? Ora, não é por acaso que o livro de Le Bon “A psicologia das multidões” e que foi publicado há mais de cem anos vive hoje em dia um grande renascimento. Somos apenas uns seis bilhões e já é difícil nos suportarmos. Não é por acaso que mais soldados são formados hoje em dia para dominar multidões do que para lutar no front. Pois, na maioria dos países civilizados, uma multidão – de torcedores, de desempregados, de inimigos da globalização – apresenta uma ameaça maior do que o exército do vizinho. Quanto maior for a multidão, mais irresponsável é o comportamento das pessoas. Mas as multidões crescerão. Os nossos instintos coletivos tornam-se cada vez mais perigosos. E a humanidade continua reproduzindo-se sem pensar. Você imagina como será o mundo da metade do século XXI, quando seremos por volta de dez bilhões? Você pode viver até lá. Eu não o invejo. Nem a seus filhos.

– De fato, estes são desafios crescentes, mas será que você – antes o entusiasta do futuro – quer dizer, hoje, que não valeu a pena? Que estragamos este mundo? Que sonhando irracionalmente e realizando os sonhos irrefletidamente, em vez de construir um céu na terra, construímos um inferno?

– Mas isso ninguém sabe. Afinal, não temos comparação com um mundo alternativo. Em geral é difícil julgar algo cuja alternativa nos é desconhecida. Sobretudo porque não conhecemos e nem imaginamos o final. O que parece bom freqüentemente resulta em mau isso que consideramos mau freqüentemente resulta bom a longo prazo. Se o fim do mundo fosse hoje, poderíamos tentar fazer algum balanço. Mas, como não conhecemos a data do Último Julgamento, todas conclusões seriam falsas. Sabemos apenas que o que conseguimos sempre dramaticamente perde em valor e que, quando conseguimos uma coisa, sempre inventamos outros objetivos. Quando eliminamos um problema, em seu lugar aparecem sempre cinco outros. É fácil subir em um tigre, mas como descer? Nós subimos em um demônio tecnológico e ele agora faz conosco o que quer, mas se tentarmos descer, ele nos devora. Os demônios tecnológicos que desencadeamos agora nos assustam à noite. Nos assustam com a invasão tecnológica em nós mesmos, em nossos corpos, em nosso cérebro. Antes, isso parecia atraente, hoje é assustador. Pois sempre é mais agradável apenas sonhar com algo. Sonhar é inofensivo, pois significa o futuro, e o futuro não dói. Fomos míopes. Quarenta anos atrás, parecia-nos que esses demônios ainda estavam muito, muito longe, e eles estavam bem perto. Talvez deveríamos nos lembrar da antiga verdade de que não existe nenhum “helicitómetro” ou aparelho que meça a felicidade. Do estado de felicidade provocado pelas batatinhas fritas que comia quando trabalhava como obreiro numa oficina alemã me lembro até hoje, e agora as batatinhas fritas não me impressionam mais nada. O homem já é feito de modo que a nossa maior felicidade está “entre a mão estendida e a fruta...”

Felicidade pra mim não é algo explicado por conceitos dados em uma busca do Google, mas também não sei bem o é....

Ah... sei lá,

Beijos da Kissú!

5 comentários:

  1. Poxa, o Stanislaw é realmente foda: "a felicidade está entre a mão estendida e a fruta!" Realmente isso é muito humano.

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  2. Oi amiguinha! Como vc ta?
    To com saudade. Bjis

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  3. Fantástico. Eu não conhecia Stanislaw Lem, apesar de conhecer a fama de Solaris. Agora eu quero ver ainda mais esse filme....versão russa, claro.

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  4. amiguinha... meu blog voltou! Te espero la! Bjins

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  5. O q aconteceu?
    Vc vai abandonar isso aqui?

    Bjim!

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