domingo, 26 de outubro de 2008

Stanislaw Lem


Como quer você se comunicar com o oceano, se não é capaz de compreender a si mesmo."
[Solaris, Stanislaw Lem]


Hoje estava lendo um artigo sobre Stanislaw Lem, um dos autores de ficção científica que mais gosto, selecionei um trecho de um entrevista dada por ele em 2000. Sem mais delongas, segue:


“ – Vale a pena sonhar mas sob a condição que nossos desejos nunca virem realidade, pois, de perto até os mais belos sonhos tornam-se monstruosos.

– Sobretudo os mais belos. Por exemplo, o sonho de que não fiquemos doentes. Quantos homens maravilhosos sacrificaram a vida para que tal sonho se realizasse? E quanto conseguimos a caminho de sua realização? A maioria das doenças que durante séculos devastava a humanidade, hoje em dia não existem mais. Isso é maravilhoso. Mas continuaremos achando isso tão maravilhoso quando, graças à medicina, seremos 15 bilhões na terra? Duvido que algum dia possamos mandar a sobra para Marte ou para uma galáxia vizinha. E será que poderemos nos agüentar quando seremos 30 bilhões? Mesmo se conseguirmos nos alimentar? Será que não nos mataremos mutuamente amputamos 90 por cento da agressividade que temos? Ora, não é por acaso que o livro de Le Bon “A psicologia das multidões” e que foi publicado há mais de cem anos vive hoje em dia um grande renascimento. Somos apenas uns seis bilhões e já é difícil nos suportarmos. Não é por acaso que mais soldados são formados hoje em dia para dominar multidões do que para lutar no front. Pois, na maioria dos países civilizados, uma multidão – de torcedores, de desempregados, de inimigos da globalização – apresenta uma ameaça maior do que o exército do vizinho. Quanto maior for a multidão, mais irresponsável é o comportamento das pessoas. Mas as multidões crescerão. Os nossos instintos coletivos tornam-se cada vez mais perigosos. E a humanidade continua reproduzindo-se sem pensar. Você imagina como será o mundo da metade do século XXI, quando seremos por volta de dez bilhões? Você pode viver até lá. Eu não o invejo. Nem a seus filhos.

– De fato, estes são desafios crescentes, mas será que você – antes o entusiasta do futuro – quer dizer, hoje, que não valeu a pena? Que estragamos este mundo? Que sonhando irracionalmente e realizando os sonhos irrefletidamente, em vez de construir um céu na terra, construímos um inferno?

– Mas isso ninguém sabe. Afinal, não temos comparação com um mundo alternativo. Em geral é difícil julgar algo cuja alternativa nos é desconhecida. Sobretudo porque não conhecemos e nem imaginamos o final. O que parece bom freqüentemente resulta em mau isso que consideramos mau freqüentemente resulta bom a longo prazo. Se o fim do mundo fosse hoje, poderíamos tentar fazer algum balanço. Mas, como não conhecemos a data do Último Julgamento, todas conclusões seriam falsas. Sabemos apenas que o que conseguimos sempre dramaticamente perde em valor e que, quando conseguimos uma coisa, sempre inventamos outros objetivos. Quando eliminamos um problema, em seu lugar aparecem sempre cinco outros. É fácil subir em um tigre, mas como descer? Nós subimos em um demônio tecnológico e ele agora faz conosco o que quer, mas se tentarmos descer, ele nos devora. Os demônios tecnológicos que desencadeamos agora nos assustam à noite. Nos assustam com a invasão tecnológica em nós mesmos, em nossos corpos, em nosso cérebro. Antes, isso parecia atraente, hoje é assustador. Pois sempre é mais agradável apenas sonhar com algo. Sonhar é inofensivo, pois significa o futuro, e o futuro não dói. Fomos míopes. Quarenta anos atrás, parecia-nos que esses demônios ainda estavam muito, muito longe, e eles estavam bem perto. Talvez deveríamos nos lembrar da antiga verdade de que não existe nenhum “helicitómetro” ou aparelho que meça a felicidade. Do estado de felicidade provocado pelas batatinhas fritas que comia quando trabalhava como obreiro numa oficina alemã me lembro até hoje, e agora as batatinhas fritas não me impressionam mais nada. O homem já é feito de modo que a nossa maior felicidade está “entre a mão estendida e a fruta...”

Felicidade pra mim não é algo explicado por conceitos dados em uma busca do Google, mas também não sei bem o é....

Ah... sei lá,

Beijos da Kissú!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Coração Cansado

Faz muito tempo que não consigo escrever algo engraçado, vai ver gastei a minha alegria com coisas que não valiam a pena.
A gente vai crescendo e percebe que está sozinho, que as pessoas não são inerentemente boas e que o mundo é muito muito feio, nada é tão colorido como foi em outros dias. A felicidade se esgota, gasta, e eu sinto ter despendido a minha com coisas vãs. Não quero dizer que toda minha alegria foi em vão, mas que existem coisas que não valem o esforço.
A fraqueza e o cansaço uma hora chegam, eles já tomaram conta de mim, e eu já não consigo lutar pelas coisas em que acredito, digo, coisas em que um dia acreditei. Meu instinto protetor já não é tão feroz, já não tenho garra ou vontades latentes. Tudo o que sinto é essa letargia.
Não gostaria que isso acontecesse, mas meus dias são apenas dias, minhas semanas sucessões de dias, não há mais nada de especial por que lutar. Eu só queria dizer o quanto estou decepcionada com o que é o homem, decepcionada especialmente com o que eu sou.
Só espero que este estado melancólico não afete todo meu ser, que eu possa novamente me apaixonar pela vida e voltar a acreditar.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

sábado, 19 de abril de 2008

The adventures of Cabeludo-boy III

Quero saber se estão gostando e acompanhando as tiras do Cabeludo-boy. O que acham do personagem e tal? Gostaria de ter um feedback de vocês.
A saga deste mais novo herói continuará a ser contada aqui no BligBlegBlog, mas o rumo dessa história só poderá ser traçada com a ajuda de vocês.

Beijos da Kissú!



domingo, 13 de abril de 2008

The adventures of Cabeludo-boy II

Depois de chuvas de pedidos, venho com uma nova tira do Cabeludo-boy. Devido às críticas, estou fazendo aperfeiçoamentos nos desenhos e até criei cenários. Se acharem a imagem pequena, basta clicar nela para que fique maior, ou me mandar uma mensagem que eu mando por e-mail sem problemas...



Espero que se divirtam.



Beijos da Kissú!

terça-feira, 8 de abril de 2008

The adventures of Cabeludo-Boy I

Além de modelo, manequim, escritora, cantora e atriz, eu também sou roteirista, desenhistas e colorista, e vou postar aqui algumas histórias desse mocinho...
Espero que gostem, mas se não gostarem, pelo menos atualizei o blog e ninguém pode reclamar...

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Beijos da Kissú!



domingo, 23 de março de 2008

O Super-Herói em mim


Na TV todos têm poderes especiais, uma maratona de "Heroes" ontem me fez refletir, pensar nos nossos super-poderes. Sem dublês ou efeitos especiais, conseguimos ser ainda mais super-heróis e heroínas aqui mesmo, na vida real.
Poder de regenerar corações por várias vezes partidos; ser mais forte que o Hulk para livrar a cara de um amigo; de trabalhar oito horas, pegar pelo menos três de trânsito, estudar, comer, dormir e ainda ter tempo para ler o jornal e namorar; poder de nunca esquecer certas coisas; de ler as necessidades dos que estão próximos, sem que estes sequer abram a boca; de se livrar de uma doença chata em segundos para aproveitar um dia de cachoeira.
Sei lá se existe dessas coisas de "poder de atração", mas o fato é que somos dotados de habilidades especiais e únicas, cada um tem a sua e por isso é herói da sua maneira. Que fique bem claro que isso não é motivo para uso de roupas "especiais", como fazem os Super-EMOtivos, e outros supers que existem por aí.
Eu queria ter o super poder de estar sempre com aqueles que amo, mas como não é possível estar fisicamente em vários lugares, eu ofereço a cada um deles um teco do meu coração e meus pensamentos (sempre positivos), essa é minha forma de estar com vocês (a Carol é praticamente onipresente).
Não quero ser apenas um movimento (você sabe bem o que quero dizer, né?), eu quero ser uma força atuante, que revitaliza sempre o que está em minha volta, que transmita alegria, que cure mágoas e enxugue lágrimas. Não preciso necessariamente comandar e mandar em tudo, só fazer aproximar o que é bom e não deixar mais ir embora.
Quero ser imã de felicidade, não de metais; quero transmitir vibrações positivas, não dirigir pensamentos; quero ser fonte inesgotável de alegrias, mas não como gênios de lâmpadas mágicas que realizam desejos, pois nem sabemos o que desejar. Quero estar presente sempre que meus amigos necessitarem, e se preciso for, pra isso eu uso até teletransporte.
As coisas não são tão simples, não é só mexer o nariz para coisas aparecerem. Nós, super-heróis normais, temos que movimentar o corpo todo e agir para fazer acontecer. Eu estou fazendo isso, mas quero saber de você?


Tomem cuidado com as kriptonitas e sigam em frente, para o futuro e além!


Beijos da Super-Kissu!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Cadê aquela infância?


Ontem estava pensando no futuro, não no que quero ser ou ter daqui a 10 anos e sim em como será a vida dos meus filhos. Será que não vai ter carinhos de rolimã, brincadeiras de casinha, pique-pega, pique-esconde, pique-bandeirinha, nem piquenique? Eu não vejo as crianças do meu condomínio falando do monstro do banheiro da escola, e sim trocando “chiaters” de jogos on-line, e, na maioria das vezes, isso nem é feito com todo mundo sentado na calçada e sim por telefone.
Não vejo mais as crianças chamando os avós de senhor ou senhora. Nessa nova ordem que se forma, é difícil ver algum jovenzinho tratando com carinho e educação até mesmo os pais. Isso não é nenhum hormônio na comida, é uma nova tendência, a do individualismo acima de tudo. Alguns pais têm aquela brilhante idéia, dar tudo o que não tiveram quando crianças: roupas, brinquedos, pequenos luxos... mas acabam esquecendo de passar adiante aquilo que lhes foi abundante na infância: carinho, limites, atenção, tempo.
Tempo! Isso talvez seja o mais complicado. Como uma mãe moderna faz para sair do trabalho e resolver uma briguinha de escola? Se ela não for a mulher maravilha, esse tipo de coisa fica em segundo plano. Outra situação, birra acompanhada da clássica frase “Eu quero!”, se gasta muito mais tempo tentando explicar por que não do que passando no caixa e efetuando a compra, por isso, na maioria dos casos, os pais optam pela segunda alternativa.
As próprias crianças também não têm tempo como tínhamos a poucos anos atrás. São pequenos executivos com horários apertados, sendo treinados para um mercado de trabalho competitivo. Escolas em tempo integral! Computador e televisão para preencher os horários sem cursinhos...
Com essa fórmula, o resultado não poderia ser diferente. É batata! As crianças de hoje se tornaram monstrinhos consumistas e individualistas.
Fico sim saudosa dos meus anos de roça, em que eu subia nas árvores e ficava a tarde toda na rua sem nenhuma preocupação. Minha infância aqui na cidade continuou muito feliz mesmo sem o ambiente bucólico do campo. Ninguém morria por não ter celular e brincávamos na rua sem medo nenhum de seqüestros relâmpagos. Era raro sair para ver um filme no cinema e comer “fast foods”, mesmo por que tinha sessão da tarde e as mães faziam pipoca. Íamos sempre a parques, ao zoológico, brincar com os primos e todo mundo se divertia. Ninguém tinha Orkut, mas não perdíamos o contato com os amigos.
Depois de todas essas divagações, fiquei pensando nos pestinhas adoráveis que virão, imaginando como serão meus filhos... Não quero que sejam pequenos gênios, ou que saibam falar quatro idiomas, nem que estejam preparados para o vestibular com 13 anos de idade. Eu quero ter filhos felizes. Também quero aproveitar a infância deles, jogar ludo e adedonha, almoçar junto, acompanhar a realização das lições, ouvir as novidades da escola e tudo o mais. Na verdade eu nem sei se vou ter filhos, mas se tiver, não quero ensinar apenas à competir, quero ensinar como dividir, respeitar o próximo e acima de tudo amar o mundo que existe fora deste universo interior do próprio eu.
Companheirismo, solidariedade, altruísmo, amor, respeito, carinho e outra porção de palavras simplesmente maravilhosas não podem sair do dicionário. Cabe a nós não deixar o que elas representam morrer e passar tudo isso para nossa prole.
Vamos voltar todos à infância!!
Beijos da Kissu!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Contando um conto.... 4 (the End)

Flor Amarela
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(Parte IV)
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Marquei um encontro com a minha menina, ela não pode recusar meu convite pois, além de amigos, éramos pedaços complementares de uma mesma coisa. Naquela noite vesti minha melhor roupa, cuidei da minha aparência como há muito não fazia. Aquela era uma noite única, era a noite do grande sacrifício. Fui à casa dela e ela já me esperava perfeita, vestida com um vestido claro e leve. Eu nunca a tinha visto tão linda, naquela noite ela não parecia esconder sua beleza divina, tudo aquilo era para mim. Ela estava mais silenciosa que nos dias anteriores, não falava das suas experiências na Europa nem do namorado 15 anos mais velho, apenas se deixava conduzir pela mão.
Eu a levei ao parque onde eu acalmava minha febre infantil. Aquela era uma noite perfeita, as estrelas brilhavam e todas as árvores estavam floridas. O lago que havia ali perto refletia toda a beleza daquela noite entre as folhas caídas. Estava tudo pronto para minha passagem, tudo estava perfeito para minha transição de mortal para deus. Eu a segurei pelos pulsos e fiz com que entrasse na água. Foi a primeira vez que vi o medo em seus olhos. Ela me temia, ela me respeitava e eu podia sentir que estava me transformando em um deus.
Eu fiz com que ela percebesse que era uma sereia, uma rainha, uma deusa. Ela tentava se soltar, se debatia e tentava de alguma forma se comunicar comigo, meu poder começava a se sobrepor ao dela, mas ainda não conseguia entender aquela língua celeste que ela usava dentro da água. Mesmo sem poder fazer nada, totalmente impotente e indefesa, ela era tudo, sua presença transcendia o seu pequeno corpo mortal e começava a se espelhar em todas as coisas. Agora ela era uma flor amarela que eu esmagava com as mãos, que eu não queria ver murchar. Quando vi que ela não se mexia mais, a peguei no colo. Nunca imaginei que ela fosse tão leve. Eu a deitei na grama e me pus junto a ela. Ela acalmou a febre do meu coração com seu corpo frio. Naquele momento eu me senti completamente purificado, naquela hora eu já não era mais um homem, eu era um deus, ao lado dela, meu sacrifício, eu era completo, eu era tudo, eu era um deus.
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Fim

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Contando um conto.... 3

Flor Amarela
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(Parte III)
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Entrei na faculdade naturalmente, escolhi a profissão de meu pai, seria engenheiro civil, a contragosto de minha mãe. Aquela garota me ensinou a não levar as coisas tão a sério, foi aí que comecei a seguir seus passos. Quando ela me deixou comecei minha jornada, queria eu mesmo ser divino na falta de uma deusa para venerar. Passei a estudar com menos afinco, apenas o necessário, comecei a manipular as pessoas, como ela outrora fazia. Cada noite saía com uma garota diferente, queria ocupar meus pensamentos com outras coisas que não fosse ela. Passei a falar menos, apenas o suficiente para me admirarem e servirem, também comia menos, mas comecei a beber mais e alimentar todos meus outros vícios. Eu não dormia uma noite inteira sequer, procurava me manter sempre ocupado, pois ela perturbava meus sonhos, ocupava cada brecha do meu pensamento.
No início do meu terceiro ano de faculdade, a vi sentada perto de uma árvore quando eu saía de uma aula. Como ela conseguia ser tão perfeita? Aqueles anos serviram para torná-la absolutamente linda. O vento soprava os seus cabelos negros, o que me fazia desejar ainda mais tocá-los. Quando ela soltava a fumaça do cigarro, mais parecia soprar flores pelo ar. Fiquei completamente paralisado diante daquela magnífica cena e quando finalmente consegui me mover, vi um homem alto e bem arrumado beija-la. Ele a levou de mim e meu mundo ruiu.
No dia seguinte ela me procurou e me disse que tinha voltado há alguns meses e estava ali para acompanhar o novo namorado, que não era tão novo assim e estava na faculdade para lecionar. Naquele dia ela me convidou para almoçar. Antes de comer qualquer coisa, com movimentos calculados prendeu o cabelo, ela fez isso pra que eu visse aquela flor amarela tatuada no seu pescoço. Aquela flor era eu, como ousava estar com outro homem se ela pertencia a mim, se eu pertenço a ela, se eu faço parte dela, se eu sou aquela flor impregnada em sua pele.
Naquele momento passei a ser um mero expectador da minha própria vida, ela era o personagem principal e sabia disso. O que ela queria era me cortar os pulsos e pôr sal na ferida. Eu passei a seguir todos os seus passos. Ela continuava o seu reinado, ela ainda era uma deusa. Ela controlava tudo a sua volta como sempre, mas não a mim, eu não fazia parte disso, eu era apenas um expectador. Ele também era uma marionete nas mãos dela, ele também fazia parte do seu jogo. Eu já havia presenciado aquilo algumas vezes, mas nunca o ciúme me doeu tanto quanto aquela vez.Foi então que percebi que não podia ter uma deusa sendo apenas um mortal, tinha de me tornar um deus. E para ser um deus, precisava me purificar, e foi o que eu fiz, me purifiquei. Mas ainda não estava completo, deuses de verdade exigem sacrifícios, eu já tinha como certo o que seria minha oferta aos céus.
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Continua...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Contando um conto.... 2

Flor Amarela
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(Parte II)
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No meu primeiro dia de aula ela foi a primeira a falar comigo. Quando a vi se aproximar, fechei os olhos por um momento, para esquecer tudo o que foi minha triste vida e contemplar com a alma pura a beleza daquela figura que significava um novo início. Quando abri os olhos ela deu um largo sorriso e disse: “Calma, isso é só o começo, o pior ainda está por vir.”. Sim, aquilo era o começo da minha destruição, ou da minha redenção, era o início de uma dura jornada rumo a um terrível fim.
Como eu poderia descrevê-la? Talvez ela não fosse a mais bonita entre as meninas daquela idade, mas a mim parecia perfeita. Ela era mais bonita que as flores amarelas que perfumaram minha infância. Seus cabelos e olhos escuros contrastavam com uma pele clara com algumas sardas. Ela era magra e tinha uma estatura média, mas com apenas um olhar ela crescia diante dos meus olhos, sua presença cativava e inspirava temor. Sem dúvida ela não era uma garota comum, e definitivamente era mais inteligente que qualquer outra que conheci.
Eu não era nada perto dela. Ela era tudo o que eu não era. Tudo o que faltava em mim, sobrava nela e ao mesmo tempo não havia ninguém com quem me identificasse mais do que aquela menina. Ela exercia um poder incrível sobre todos. O que ela queria, ela podia. Simplesmente dominava tudo a sua volta, todos os que a cercavam eram seus fantoches. O mais impressionante era que só eu via o que realmente ela era, uma mistura de deusa e demônio que a todos controlava.
Eu sempre estudei muito, minha mãe dizia que era um orgulho ter um filho tão inteligente quando via minhas boas notas. Quando ela me dizia isso eu me sentia orgulhoso, me sentia melhor do que eu realmente era. Ela, ao contrário, nunca precisou se esforçar para ocupar o lugar de destaque que naturalmente lhe pertencia. Engraçado é que ela não parecia se importar com isso, talvez já estivesse acostumada com a condição de rainha.
Ela conversava pouco comigo nos primeiros meses, mas eu podia notar que a mim ela dava uma atenção especial. Talvez ela sentisse que eu sabia seu segredo, que eu conhecia sua verdadeira face. Nossa amizade cresceu gradualmente, ela era a única pessoa com quem eu conversava por mais de cinco minutos. Com o tempo nos tornamos companheiros inseparáveis. Ela me introduziu no mundo adolescente, me fez ver que não eram apenas as boas notas que a tornavam benquista e poderosa.
Ela era totalmente desregrada, não tinha nenhuma disciplina. Ao contrário de mim, que mesmo com todo tempo livre e descaso familiar não fazia mais que dar voltas pelo parque, ela, com todo o zelo e cuidado da mãe, fumava e bebia, participava de todos os tipos de festa e falava com todo tipo de gente. E eu que pensava que para ser querido precisava apenas ser bem sucedido como meus pais.
Para ela nada era trabalhoso. Possuía uma habilidade incrível de tornar tudo simples, com isso fazia com que todos dependessem dela sem que ao menos percebessem. Meu rendimento na escola, como era de se esperar, caiu quando eu estava sob sua influência. Com ela, eu ia a todos os lugares, tinha que me desdobrar em mil para atendê-la plenamente.
Todo aquele tempo que nós passávamos juntos e nenhum beijo sequer ela me deu. Uma vez, quando finalmente criei coragem, matamos aula e fomos ao parque perto da escola passar o tempo e fumar, já compartilhava de quase todos os seus vícios. Eu a presenteei com uma flor, era uma rosa amarela. Ela recebeu meu presente, deitou-se na grama, cheirou a rosa com os olhos fechados, depois a olhou atenta e demoradamente e por fim esmagou a rosa com as mãos. “Melhor que ela morra antes de murchar, assim continuará pra sempre linda em minha memória” foi o que ela disse quando percebeu que eu fiquei totalmente transtornado com aquela ação.
Nossa amizade ficou abalada depois do último evento que acabo de relatar. O que ela esmagava com as mãos não era a rosa, era meu coração, eram todos meus sentimentos, todas minhas esperanças. Como um mortal pode sonhar assim tão alto, desejar uma rainha, almejar uma deusa? Eu em minha infinita mediocridade não entendi aquela atitude de ser superior e acabei por me afastar.
O rancor que habitava minha alma não era maior que o amor que sentia por aquela criatura. Mas quando consegui esvaziar meu coração daquela raiva era tarde demais, ela foi embora. Era nosso último ano de escola quando a mãe dela morreu, ela foi morar com o pai, que vivia em Londres, e por três anos não vivi.
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Continua...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Contando um conto....

A partir de hoje postarei um conto, cada dia da semana uma parte. É uma história inspirada em Allan Poe e Clive Barker, portanto bem diferente do que normalmente escrevo aqui.
Tudo culpa do Fernando, meu querido amigo a quem devo um café, prometi publicar aqui o conto e estou cumprindo. Tenho também que agradecer o incentivo e a revisão do texto. Sem ele essa história ainda estaria muito mal escrita ainda em inglês.
O conto foi traduzido, ampliado e revisado e a partir de hoje postarei aqui um pedacinho todas as manhãs. Espero que gostem, sem mais demoras eu apresento:




Flor Amarela
(Parte I)

A minha infância foi bem tranqüila, porém muito solitária. Tinha uma família financeiramente estável, meus pais ainda eram casados naquela época, cada um preocupado demais com sua própria vida para abalar aquela perfeita estrutura familiar. Eu era o mais novo de três irmãos, e também o mais negligenciado, o que menos recebia atenção. Não culpo meus pais, nem meus irmãos, entendo perfeitamente que cada um deles tinha seus próprios problemas, não podiam parar suas vidas por minha causa.
Meus pais eram bem-sucedidos profissionalmente e éramos crianças estudiosas. Minha irmã mais velha já estava na faculdade, estudava arquitetura, o do meio fazia aulas de línguas e tinha um grande gosto por música. Nessa época eu tinha mais ou menos uns dez anos. Éramos o que se poderia chamar de família perfeita de plástico.
Por ser o mais novo eu era o mais largado, ninguém tinha muito tempo para mim, o que me conferia uma maior liberdade. Meus pais mal nos viam, se dedicavam quase que integralmente a seus respectivos trabalhos e meus irmãos estavam sempre muito ocupados com suas atividades. Não sei se gostava disso ou não, mas eu podia ler, sair, fazer o que eu bem entendesse, porém preferia não fazer muitas coisas além do normal.
Eu passava muito tempo só, não gostava de brincar com outras crianças. Não era tímido, só não gostava de brincar, achava as outras crianças bobas. Para acalmar a febre da minha solidão costumava pegar minha bicicleta e ir ao parque onde me deitava na grama fresca para esquecer o que me afligia. Eu passava horas deitado sob as árvores, quando era primavera fechava os olhos por um instante e quando tornava a abri-los minha mente estava pura para contemplar a beleza das árvores floridas. As flores amarelas eram as minhas favoritas. Tudo aquilo tranqüilizava minha alma e me fazia esquecer a solidão.
Toda estabilidade da minha vida acabou no ano que completei 14. Primeiro minha irmã mais velha saiu de casa, pois ganhou um apartamento do papai, e isso foi motivo para o início das brigas entre ele e minha mãe. Depois o do meio foi aprovado em Música numa faculdade em outro estado. Ele não pensou duas vezes antes de arrumar as malas e se ver livre do que já virara rotina: as discussões intermináveis de nossos pais. Sofri um acidente horrível de bicicleta, quebrei um dente e meu braço esquerdo, além de levar cinco pontos no queixo. Esses e outros eventos criaram uma grande tensão entre eles e o convívio em minha casa se tornou insuportável até que por fim se separaram. Mamãe e eu fomos para uma nova casa, papai ficou com a antiga. Tive que mudar de escola e esse foi o maior agente da transformação que aconteceu em minha vida.
Continua...

domingo, 27 de janeiro de 2008

O sabor da irresponsabilidade


Que delícia, não se preocupar com nada. Esvaziar a cabeça e curtir. Vestir todas as peças de roupa que a gente gosta sem ligar à mínima se elas têm cores que não combinam nem um pouco ou se não fazem sentido juntas. Sair sem rumo num encontro especial, um encontro como um eu interior, sem necessidade de falar uma palavra, só curtir esse precioso momento.
Esse encontro interior não tem nada a ver com religiosidade, com busca de um crescimento, ou melhorar o que sou... Não, nada disso! É ficar de boa com quem mais amo, quem melhor me entende e quem está sempre comigo, mesmo quando a vontade é ser outra pessoa. Parece não fazer sentido, acho que não faz mesmo, mas hoje eu tive um raro e breve momento, daqueles em que nada importa, não existem mazelas, nem preocupação, não existe nada além do deleite.
Correr na chuva sem me preocupar se ela é ácida, entrar em casa sem secar os pés, deitar no chão, olhar pro nada e não me preocupar, simplesmente assim. Esquecer que existe mundo além daquele momento, viver nem que seja um pouquinho o egoísmo desse micro-espaço e acreditar que todos os elementos daquele momento são seus, inclusive você mesmo.
Eu gostaria de recomendar chuva no corpo para esse dia de domingo lindo por ser único como todos os outros dias. Mas esses momentos sublimes acontecem espontaneamente, chegam do nada e vão para lugar nenhum, mas marcam para sempre as nossas vidas servindo de marcos entre antes e depois de uma louca descoberta, a de que somos perfeitamente completos, os elementos externos podem até variar, mas somos universos únicos e pertencemos tão somente a nós mesmos.

Tenham todos uma ótima semana, cheia de descobertas!

Beijos da Kissu!

sábado, 19 de janeiro de 2008

Yes, baby, eu quero um namorado...


E quero mesmo, estou cansada de ficar esperando ligações de alguém que não sei o que sente por mim, de ficar pensando em o que essa pessoa está fazendo, se está pensando em mim ou me sacaneando legal. Sou boba e inocente com relação a essas coisas mesmo, como diriam minha mãe e minhas tias eu tenho o dedo podre, não sei distinguir quem gosta de mim ou não.
Mas o fato é que quero alguém legal pra me ligar cedinho e me levar para o parque, que apareça de surpresa com chocolate quando ouvir minha voz tristinha, alguém que me permita ter ataque de ciúmes bobos, que mande um torpedo dizendo que acabou de se lembrar de mim, que me mime, mas saiba chamar a atenção quando eu extrapolar, por que eu extrapolo mesmo, alguém que se preocupe comigo, mas sem deixar de ter personalidade e vida própria, pois o que quero é um namorado, não um terceiro braço.
Quero me apaixonar muitas e muitas vezes por uma pessoa só, que acima de tudo me faça sorrir, pois é isso mesmo que eu procuro, ser feliz, ou batalhar bastante para ser. Sei lá, acho que a alegria está na busca da felicidade, “A viagem já é metade da diversão!”, e o que quero é me divertir, de forma saudável e segura, sem paranóia, brigas ou intrigas e, o mais importante de tudo, sem insegurança, isso abala meus nervos...
Bah, como sou bobona, olha o que to escrevendo pra atualizar esse blog maldito. Eu poderia falar de um livro que li ou do último filme que vi no cinema, que, diga-se de passagem, foi uma bosta, falar da vida, do universo e tudo o mais, porém o que quero mesmo é um amigo e companheiro com quem eu possa compartilhar minhas angustias e incertezas, assim como tudo o que tenho de bacana. Minha intenção aqui não é ser Cult, mesmo.
Amigos, não precisam procurar um namorado pra mim não, é só aquela vontadezinha que deixa a gente inquieto às vezes. Como sabem, tenho necessidades mais urgentes, como ganhar 17 milhões na Mega-Sena hoje, comprar um barco e passear pelo mundo, e também ler todos os 8 últimos livros que ganhei de presente ao longo do ano passado, e também passar em um ótimo concurso público e pagar uma rodada de suco de tamarindo para todos vocês... Ahhh... e reaver meu fusquinha também, o namoro vem depois de tudo isso, mas se vier antes eu também iria gostar muito.

Tenham todos uma ótima semana, com muito romance....


Beijos da Kissu!!!