quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Contando um conto.... 3

Flor Amarela
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(Parte III)
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Entrei na faculdade naturalmente, escolhi a profissão de meu pai, seria engenheiro civil, a contragosto de minha mãe. Aquela garota me ensinou a não levar as coisas tão a sério, foi aí que comecei a seguir seus passos. Quando ela me deixou comecei minha jornada, queria eu mesmo ser divino na falta de uma deusa para venerar. Passei a estudar com menos afinco, apenas o necessário, comecei a manipular as pessoas, como ela outrora fazia. Cada noite saía com uma garota diferente, queria ocupar meus pensamentos com outras coisas que não fosse ela. Passei a falar menos, apenas o suficiente para me admirarem e servirem, também comia menos, mas comecei a beber mais e alimentar todos meus outros vícios. Eu não dormia uma noite inteira sequer, procurava me manter sempre ocupado, pois ela perturbava meus sonhos, ocupava cada brecha do meu pensamento.
No início do meu terceiro ano de faculdade, a vi sentada perto de uma árvore quando eu saía de uma aula. Como ela conseguia ser tão perfeita? Aqueles anos serviram para torná-la absolutamente linda. O vento soprava os seus cabelos negros, o que me fazia desejar ainda mais tocá-los. Quando ela soltava a fumaça do cigarro, mais parecia soprar flores pelo ar. Fiquei completamente paralisado diante daquela magnífica cena e quando finalmente consegui me mover, vi um homem alto e bem arrumado beija-la. Ele a levou de mim e meu mundo ruiu.
No dia seguinte ela me procurou e me disse que tinha voltado há alguns meses e estava ali para acompanhar o novo namorado, que não era tão novo assim e estava na faculdade para lecionar. Naquele dia ela me convidou para almoçar. Antes de comer qualquer coisa, com movimentos calculados prendeu o cabelo, ela fez isso pra que eu visse aquela flor amarela tatuada no seu pescoço. Aquela flor era eu, como ousava estar com outro homem se ela pertencia a mim, se eu pertenço a ela, se eu faço parte dela, se eu sou aquela flor impregnada em sua pele.
Naquele momento passei a ser um mero expectador da minha própria vida, ela era o personagem principal e sabia disso. O que ela queria era me cortar os pulsos e pôr sal na ferida. Eu passei a seguir todos os seus passos. Ela continuava o seu reinado, ela ainda era uma deusa. Ela controlava tudo a sua volta como sempre, mas não a mim, eu não fazia parte disso, eu era apenas um expectador. Ele também era uma marionete nas mãos dela, ele também fazia parte do seu jogo. Eu já havia presenciado aquilo algumas vezes, mas nunca o ciúme me doeu tanto quanto aquela vez.Foi então que percebi que não podia ter uma deusa sendo apenas um mortal, tinha de me tornar um deus. E para ser um deus, precisava me purificar, e foi o que eu fiz, me purifiquei. Mas ainda não estava completo, deuses de verdade exigem sacrifícios, eu já tinha como certo o que seria minha oferta aos céus.
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Continua...

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